quarta-feira, 4 de maio de 2011

Realizador de sucesso nos anos 70, Fauzi Mansur lança no Cine PE seu primeiro longa após hiato 20 anos




Fonte: site O Globo/Cultura




Por Rodrigo Fonseca



RIO - Surpreendente para realizadores autorais acostumados a salas exibidoras pouco concorridas, a lotação de 2,5 mil espectadores por noite registrada pelo Cine PE não difere muito (em parâmetros quantitativos) do público que o paulistano Fauzi Abdalla Mansur costumava contabilizar nos anos 70 e 80. Fosse com produções mais sofisticadas como “Sinal vermelho: as fêmeas” (1972) ou com experimentos afrodisíacos do naipe de “Me deixa de quatro” (1981) ou “Sadismo, aberrações sexuais” (1982), ele lotava cinemas. Sumido há 20 anos da tela grande, sustentando-se com dividendos de uma pousada que adquiriu em Ubatuba, Mansur, cansado da “aposentadoria” cinematográfica, entrou em concurso na mostra pernambucana, cuja 15edição começa neste sábado e termina no dia 6 de maio. No dia 5, o cineasta de 69 anos exibe “Casamento brasileiro” na disputa pelo troféu Calunga.
– Quando a Embrafilme acabou, em 1990, a engrenagem de $ção que havia deu lugar a investidores privados, e o cinema popular que eu dirigia, muitas vezes com pseudônimo, foi substituído por uma linha muito mais explícita sexualmente. O que era erótico virou quase pornográfico. Mesmo os filmes com títulos mais apimentados que dirigi não passavam desse limite — lembra Fauzi, que em 1970 dirigiu um certo Renato Aragão na comédia bem-comportada “A ilha dos paqueras”, vista por 1.335.132 pagantes.

Dois anos antes, Dedé Santana, parceiro de Aragão, deu a sugestão de que Fauzi, montador de formação, trabalhasse como assistente de direção na comédia “Deu a louca no cangaço” (1968), que ele acabou codirigindo com Nelson Teixeira Mendes. Com o tempo, o ci$acabou migrando para a Boca do Lixo, região paulista que, nos anos 1970 e 1980, serviu como usina para a produção de filmes de gênero, em especial as pornochanchadas.
— Fauzi pertence a uma safra de realizadores que, sem dinheiro do governo, fazia filmes que se pagavam e davam lucro, tendo inteligência acima da média das produções da Boca do Lixo $— analisa o pesquisador João Carlos Rodrigues, que produziu para a revista “Filme Cultura” um levantamento de filmes que venderam mais de 1 milhão de ingressos de 1970 a 2010 (disponível no site www.filmecultura.org.br). — O cinema de Fauzi sempre foi artesanalmente bem feito e até denso.

Só não espere filas e filas de beldades peladas em “Casamento brasileiro”. O sexo dos êxitos comerciais do passado dá lugar a uma trama que elege a doçura como estrela.
— Descobri em cidades do interior o caso de casamenteiros: profissionais contratados para promover matrimônios coletivos. Na trama, um deles se apaixona por uma cliente. Mas eu faço uma homenagem ao meu passado como montador: um editor, à moviola, monta a história de amor do filme — diz Mansur.  Como protagonistas, Mansur escalou Nívea Stelmann e Nelson Freitas, humorista que colecionou elogios em filmes como “Muita calma nessa hora”.
— O filme mostra o farto talento de Nelson — diz Mansur. 

Além de “Casamento brasileiro”, os longas em concurso no 15 Cine PE são: “Casa 9” (RJ), de Luiz Carlos Lacerda; “Estamos juntos” (SP), de Toni Venturi; “Vamos fazer um brinde” (RJ), de Sabrina Rosa e Cavi Borges; “JMB, o famigerado” (PE), de Luci Alcântara; e “Família vende tudo” (SP), de Alain Fresnot. 



Nenhum comentário: